quarta-feira, 17 de julho de 2013

MARCO AURÉLIO

Com Marco Aurélio o estoicismo sobe ao trono imperial de Roma.
Marco Aurélio nasceu em 121 d.C. no seio de uma família nobre. Foi aos onze anos que Marco Aurélio decidiu ser filósofo; contra os hábitos da sua condição adoptou os trajes pobres dos filósofos, passou a comer menos e a dormir numa dura enxerga.
Aos dezoito anos o seu tio, o imperador Antonino Pio, adoptou-como filho para que fosse seu sucessor. O jovem Marco Aurélio era portanto o herdeiro do vasto Império; contudo apenas o império do espírito lhe interessava. Lastimava-o não poder dedicar a sua vida simplesmente ao estudo da Filosofia e a limitar-se a ser um nobre homem em vez de um homem nobre. Marco António foi assim educado da melhor maneira possível como comvinha a um futuro estadista que teria nas suas mãos o futuro da nação romana: teve aulas de Retórica, História, Política e das artes da guerra. A ele foi-lhe concedido o título de César. Entretanto Marco António vivia uma vida dupla: diante da corte comportava-se como um cortesão; nas suas horas vagas especulava sobre o que lhe dava prazer.
No ano 161 d.C. Antonino Pio morreu e Marco António subiu ao trono. Tempos conturbados esses que apanhou! Nessa altura Roma morria por dentro e por fora, assolada pelo crescente descrédito e descontentamento dos cidadãos romanos e a cobiça dos povos bárbaros ante a sua riqueza material, porque a espiritual já a nação já havia perdido há muito tempo. Roma era um sonho da qual se acordava lentamente e aquilo que ela fora perdia-se na névoa da memória. Ao ficar com tamanho encargo, o jovem rei-filósofo somente colocou para si mesmo uma condição: "Toma cuidado para não te transformares em César".
A vida de Marco Aurélio foi passada maioritariamente na sua tenda em campos de batalha. Herdara um Império a desmoronar-se e era seu dever, pelo menos, remendá-lo. Quando não estava em batalha ocupava-se da escrita. Da espada passava à pena; do coração passava à cabeça e logo ele que quanto não daria para se ocupar apenas da pena e da cabeça!
É célebre o episódio que foi tido como um milagre durante uma batalha entre as legiões romanas e os Quados; estes últimos, superiores em número, cortaram os suplimentos de água aos romanos que, com o passo lento dos dias, começaram a padecer de sede. Esperavam enfrentá-los no auge da fraqueza. Mas não é que então o céu se encheu de nuvens e começou a chover! Os romanos sedentos estenderam então os capacetes, encheram-nos e beberam à sua vontade. Ao mesmo tempo os relâmpagos acertaram no acampamento dos Quados e queimaram-nos. Os romanos atribuíram logo o termo de "milagre" ao sucedido e bendisseram Marco Aurélio e as coisas estranhas em que acreditava sobre um nazareno carpinteiro. O facto é que Marco Aurélio, apesar de ter sido educado como pagão, era cristão no seu íntimo e fazia-se acompanhar de recrutas que também o fossem. Ante o júbilo dos romanos, o imperador rejeitou o milagre: nao acreditava num Deus punitivo e destruidor e sim naquele Deus que prega a bondade e o amor entre os homens. Tal sucedido não poderia portanto ser da autoria do mesmo Deus. Num dos seus escritos diz-nos Marco Aurélio "Não posso zangar-me com os meus irmãos nem afastar-me deles. Porque somos, por natureza, feitos para nos ajudarmos uns aos outros."
Contudo, para além das incessantes guerras, mais um duro golpe havia de esperar o imperador: Avídio Cássio, o seu melhor amigo e general, crendo que com a sua força e audácia seria muito melhor governante que um filósofo de braço leve ergueu uma revolta, procurando apropriar-se do trono. Após espalhar a notícia de que o imperador morrera, convocou legiões inteiras para que o apoiassem como novo imperador e desafiou Marco Aurélio para uma batalha. Ao reunir as suas tropas para aceitar o desafio, disse-lhes "Companheiros de armas! O meu melhor amigo conspirou para me derrubar e obrigou-me, contra a minha vontade, a aceitar o combate. (...) Só uma coisa temo: que Avídio Cássio possa matar-se para poupar-se à vergonha de vir à minha presença ou que qualquer outro possa matá-lo ao saber que me encontro em marcha para a batalha. Nesse caso roubar-me-iam o prémio maior do vencedor: perdoar ao homem que procedeu mal contra mim e continuar amigo daquele que rompeu os laços de amizade que nos unia." Infelizmente, conforme a sua previsão, Avídio Cássio acabou por ser assassinado. Finda a rebelião, Marco Aurélio impediu que os rebeldes fossem executados e mandou-os de volta para as suas casas e em paz. Episódios como esse contribuíram imenso para a impopularidade do imperador ante os seus conterrâneos.
Depois da tempestade chega a calma e Marco Aurélio, quando sentiu que era apropriado, empreendeu uma longa viagem na qual visitaria as cidades que se tinham aliado à conspiração. Ia, contudo, na tentativa de restabelecer um laço com elas e não para as punir, pois o imperador escolhia o perdão à frente da vingança. Infelizmente, sucede-se um novo golpe: Faustina, sua esposa e prima, adoeceu e morreu. Mandou então, com o degsosto, construir uma estátua de ouro de Faustina para que o acompanhasse nas suas batalhas e, em sua memória, fundou um lar para meninas órfãs.
Em 179 d.C. derrotou a última das tribos rebeldes e poder-se-ia esperar que finalmente o imperador pudesse cessar em grande parte os seus deveres militares; mas, longe de ter tréguas, o imperador-filósofo contraiu uma doença durante a sua última campanha que o levaria à morte um ano depois. Imperador-filósofo que preferia ter sido Filósofo-imperador. Mas por mais rico que seja o espírito de um homem e forte o seu braço, quão fraco ele pode também ser! Os humanos são facilmente corrompíveis e o pobre imperador, que em toda a sua vida mais não queria que dedicar-se ao estudo da Filosofia e almejava o amor entre os homens, influenciado pela aura imperialista romana deixou-se corromper lentamente. Ele, que bebia o amor do carpinteiro nazareno, crucificado pelos romanos que governava, deu por si a crucificar já no fim da vida os chefes daqueles que vencia. "Si fueris Romae, romano vivito more". Como se cortuma dizer, "em Roma, sê romano. E Marco Aurélio, que dizia que o seu corpo era romano mas que o seu espírito pertencia ao mundo, acabou por romanizar-se por inteiro. "Toma cuidado para não te transformares em César" advertira-se. E contudo a sombra de um césar César, ou líder de armas, foi o que o imperador acabara por tornar-se ao longo da vida.
O imperador-filósofo morreu em 180 d.C. com a idade de cinquenta e nove anos, deixando um escrito composto por aforismos, intitulado "Meditações", dividido em doze volumes.

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Reza uma história tradicional que, quando Marco António morreu, os vários deuse organizaram um banquete para celebrar a sua chegada. Presentes encontravam-se outros tantos imperadores mais antigos que iniciaram um concurso para decidirem qual de entre eles fora o maior romanos. Assim, cada imperador na sua vez foi-se vangloriando dos seus feitos em vida, cada um mais valoros que o outro. Por fim chegou a vez de Marco Aurélio; este encolheu os ombros e disse simplesmente "Eu, humile filósofo tive apenas como única ambição de nunca fazer mal a ninguém.". Então foi ele coroado o maior dos romanos. Contudo não o maior dos homens: porque o Marco Aurélio filósofo, aquele que não desejava o mal de ninguém e que ironicamente teve que o causar para responder às exigências do Estado, foi prejudicado pelo Marco Aurélio imperador.

Algumas ideias

- A derradeira esperança da Humanidade está em não ter esperanças, pois não tendo esperança o Homem liberta-se da desilusão;
- Justiça para com os semelhantes;
- Indiferença perante o destino;
- Destemor perante a morte sendo que esta, à semelhança de Epicuro, consiste na dissolução dos elementos que compõem o ser humano.

Obra

Meditações