quinta-feira, 12 de abril de 2012

SANTO AGOSTINHO

Aurélio Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, em África. O seu pai, Patrício, era pagão e a sua mãe, Mónica, uma cristã fervorosa que em muito contribuiu para a conversão do filho. Jovem rebelde, levou uma vida desordenada e escrava das paixões humanas, algo de que se arrependeria mais tarde nas suas "Confissões de um pecador"; ao mesmo tempo, cultivava o estudo dos autores clássicos e da gramática, tanto que considerava as falhas gramaticais mais graves que um pecado mortal.
Aos 19 anos leu "Hortênsio", de Cícero e tão tocado ficou pela leitura que ganhou um profundo amor pela Filosofia. Começou também a ensinar retórica em Cartago. 
Aos 26 anos escreveu o seu primeiro livro, "Sobre o belo e o conveniente", livro esse que se perdeu. Ao mesmo tempo, começou a duvidar da doutrina dos maniqueístas quando viu que nem Fausto, o maniqueísta mais famoso do seu tempo, sabia responder a todas as perguntas. Só o exemplo e a palavra do bispo Ambrósio iriam persuadi-lo a aderir ao cristianismo, pelo que se tornou catecúmeno. O ponto culminante deu-se com a leitura dos escritos de Plotino, um retórico convertido ao cristianismo. Desta forma, Agostinho encontrou a sua orientação definitiva.
Em 386 Agostinho abandona o ensino e retira-se para uma pequena vila próxima de Milão, onde se dedica à meditação. Convence-se então de que a sua missão era a de difundir na sua pátria os ensinamentos cristãos e combater os inimigos do cristianismo.
Em 387, junto com o seu filho Adeodato (que faleceria em 389, com apenas 16 anos), Agostinho é baptizado e, em 391, voltou a Tagaste, onde foi ordenado sacerdote; quatro anos depois, em 395, foi consagrado bispo de Hipona, cargo que exerceu até à sua morte. Dedicou a maior parte da vida à procura da Verdade, que defendia residir no interior do Homem.
Agostinho faleceu a 28 de Agosto de 430. A sua biografia encontra-se escrita numa das suas maiores obras, "Confissões de um pecador", onde narra todo o seu trajecto desde a descrença à conversão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ARISTÓTELES

Aristóteles nasceu em Estagira em 384 a.C. e era filho de Nicómano, médico de Amintas III, rei da Macedónia e neto de Esculápio. 
Quando Aristóteles entrou na Academia fundada por Platão no ano 366 a.C. contava dezassete anos e lá permaneceu mais vinte anos até à morte do mestre, destacando-se durante esse tempo enquanto aluno, tanto que Platão observava que a sua Academia se compunha de duas partes - o corpo dos seus estudantes e o cérebro de Aristóteles. Efectivamente, evidenciava aptidões intelectuais incrivelmente variadas: política, drama, poesia, física, medicina, psicologia, história, lógica, astronomia, ética, história natural, matemática, retórica, biologia... tudo isto presente num jovem requintado e bem parecido que fora, via-se, educado para o sucesso. Apesar de todos os seus talentos, contudo, metre e aluno discordavam demasiado e entravam frequentemente em disputas.
Quando Platão morreu, Aristóteles contava trinta e sete anos; esperava também, dadas as suas aptidões e ao facto de ter sido um aluno insigne, ser o sucessor nomeado para dirigir a Academia. Contra o esperado, a Platão sucedeu Espeusipo, seu sobrinho e foi então que Aristóteles, ofendido, decidiu abandonar a Academia, uma vez que nunca iria conseguir tolerar o pensamento do sucessor. Assim transferiu-se para Asso, na Tróade, onde exerceu o seu primeiro ensino autónomo. Neleu converteu-se no seu mais fervoroso discípulo e não é por acaso, portanto, que a maior parte dos manuscritos de Aristóteles foram encontrados na casa de um dos descendentes de Neleu. Depois de três anos de permanência em Asso, Aristóteles transferiu-se para Mitilene.
Em 342 a.C. Aristóteles foi chamado por Filipe II, filho de Amintas III, novo rei da Macedónia, para ser o preceptor do seu filho Alexandre. Apesar de ser um homem inteligente, Filipe II revelava o temperamento - dito de modo simpático - "apaixonado" do seu povo e da sua família. A título de exemplo para ilustrar o ambiente que se vivia na corte dos reis da Macedónia, conta-se que num jantar no qual Aristóteles se encontrava presente, Alexandre insultou o seu pai Filipe II, que se levantou de punhal em riste para o matar com o ímpeto da fúria; e Alexandre, para que não o superassem, por seu turno também desfechou um ataque homicida contra o pai, tendo ambos que ser separados pelos presentes. Tal era o ambiente que Aristóteles, acostumado ao requinte e aos bons costumes, tentou suavizar com a sua sabedoria.
Filipe II da Macedónia acabou por ser assassinado e Alexandre, que não tinha o mesmo interesse do pai para com a filosofia, subiu ao trono. Após ter mandado enforcar Calístenes, sobrinho de Aristóteles que se recusou  adorar Alexandre como um deus, o sábio percebeu que não tinha mais nada a fazer na corte e regressou para Atenas após treze anos de ausência e onde viria a beneficiar da amizade do novo rei, que deu fundos à cidade para desenvolver a educação dos seus habitantes. Assim, Aristóteles fundou a sua escola, o Liceu, uma escola rival da Academia e que compreendia um edifício, um jardim e o passeio que lhe deu o nome. O Liceu tinha em comum com a Academia o facto de ser praticar uma vida em comunidade, com a diferença de haver uma ordem estabelecida. De manhã, Aristóteles leccionava cursos difíceis de argumento filosófico e de tarde dava lições de retórica e dialéctica.
Em 323 a.C. Alexandre morreu e criou-se uma insurreição da parte dos nacionalistas contra os apoiantes do rei. Temendo pela sua vida, até porque já estava a ser acusado pelos próprios atenienses de ser um espião a favor dos Macedónios e ameaçado de prisão, Aristóteles teve que fugir para Cálcis: referindo-se ao destino de Sócrates, explicou que não que queria proporcionar aos atenieneses "uma segunda oportunidade de pecar contra a filosofia". Faleceu meses depois, vítima de uma doença de estômago, com 63 anos. Pouco antes da sua morte escreveu a maior das suas obras porque marcou a época: um testamento que tratava da libertação dos seus escravos e que foi a primeira proclamação de afforria da História. Os seus restos mortais foram enterrados juntos de Pitia, sua esposa, conforme ambos desejavam.

Visão de Deus

A visão aristotélica de Deus não é a imagem clássica de um deus benevolente, amável e criador do Céu e da Terra; na verdade, o deus apresentado por Aristóteles não é Criador de nada. O criador é um ser insatisfeito, sonhador, que vive desejando algo que não existe, como tal é uma criatura imperfeita. Ora se Deus é perfeito, não pode ser Criador nem feliz ou infeliz. Um ser perfeito não sofre nem padece por paixões meramente humanas. Assim, Aristóteles apresenta Deus como o motor não movido do Universo: Deus não pode ser o resultado de nenhuma acção e sim a fonte de toda a acção e, mais uma vez, a necessidade de movimento é outra caracteristica terrena. Deus, na sua omnipotência, não necessita de realizar qualquer acto para realizar as suas vontades mas como não as tem por não ser sonhador também nada faz.
O facto é que Deus não se interessa pelo Mundo, muito embora o Mundo se interesse por Deus; mais uma vez interessar-se pelo mundo significaria estar sujeito a uma emoção e Deus, ser perfeito, é imutável e sem paixão. Ser Supremo frio e impessoal, amado por todos os homens mas indiferente aos seus destinos, Deus apresenta-se assim como uma estátua em pedra de uma bela mulher no meio de um jardim: não sente qualquer tipo de emoção nem evoca qualquer tipo de pensamento ou acção, contudo os homens seguem-na, admiram-na e desejam-na. Nada faz contudo o mundo humano gravita à sua volta. É aquilo que faz mover os homens todos os dias em direcção ao jardim. É, novamente, o motor não movido do Universo.

Forma ideal de governo

Aristóteles estudou todas as formas de governo postas em prática até à altura: analisou-as, reconheceu-lhes as potencialidades e apontou-lhes os defeitos. Na sua análise concluiu que a ditadura é a pior de todas as formas de governo e subordina os interesses de todos à decisão de um só e vice-versa; isto porque a ditadura da multidão é tão má como a ditadura do indivíduo por oposição à democracia, que "paerece ser a mais segura e menos exposta à revolução do que qualquer outra forma de governo"
A forma de governo mais desejável é aquela que "permite a cada homem, seja quem for, exercitar as suas melhores habilidades e viver o mais agradavelmente os seus dias" e terá que ser sempre constitucional: qualquer governo sem constituição é tirania e Aristóteles destacou-se também na redacção de constituições para os povos do seu tempo. Não deveria ser comunista pois segundo Aristóteles o comunismo, ao estipular a responsabilidade colectiva, trará também a negligência individual: por que nos haveríamos de preocupar com certas tarefas se elas são da responsabilidade de todos e alguém o fará? O comunismo, portanto, destruiria a responsabilidade social. Aristóteles advoga também a posse de propriedade privada e o desenvolvimento particular do carácter de cada um, sendo que ambos deveriam estar voltados para o bem-estar público. Cabe ao legislador prover os interesses públicos por meio da altruística reciprocidade dos interesses privados dos cidadãos.
Aristóteles defende que não deve haver uma distinção rígida entre classes, sendo possível cada um subir e descer de hierarquia social; todos devem ter a oportunidade de governar e de serem governados sem distinção, embora juntando uma pequena adenda segundo a qual "os velhos são os mais indicados para governar e os jovens para obedecer". A classe dirigente deve mostrar uma especial preocupação para com a educação dos jovens (que seria prática e ideal) e o seu objectivo primordial traduz-se na satisfação da felicidade dos indivíduos digiridos por meio da justiça. Mas o que é a felicidade?

A felicidade de Aristóteles

Muito genericamente, Aristóteles define a felicidade como o estado agradável do espírito decorrente do exercício das boas acções: estas seriam resultado da virtude. Contudo isto não basta: há outros ingredientes que Aristóteles aponta como necessário a uma vida feliz, como ser-se dotado de certos bens (boa origem, boa aparência, boa fortuna, bons amigos...), uma vida longa e sadia e nobreza moral, da qual a virtude não aparece como sinónimo. O indivíduo virtuoso, ao contrário da conotação que damos actualmente, é aquele indivíduo que é excelso em qualquer tipo de excelência: a palavra "virtude", que nos foi trazida do latim "virtus", veio do grego "arete" e refere-se a Ares, o deus da guerra. A virtude significa literalmente "qualidade de varão". Assim, um homem casado que tivesse muitas mulheres, por muito imoral que fosse, seria um indivíduo virtuoso no que toca às artes da conquista e um Hitler cruel é um virtuoso estadista. A virtude de Aristóteles é puramente técnica - poderia traduzir-se em eficiência - e não depende da moralidade.
As boas acções de que fala Aristóteles também não se referem ao auto-sacrifício e têm na verdade em vista a auto-preservação: o Homem faz parte de um todo social e cada boa acção que dispender pelo bem comum é na verdade uma forma de auto-benefício; para mais, todas as boas obras estão destinadas a serem retribuídas com juros, sendo portanto vistas como um emprego de capital.

Obras

148 Constituições - Diálogos - Da Monarquia - Alexandre - Os costumes dos bárbaros - História Natural - Organon - Da Alma - Retórica - Lógica - Ética a Eudemo - Ética a Nicómano - Física - Metafísica - Política - Poética - (...)

terça-feira, 10 de abril de 2012

HIPÓCRATES

Hipócrates, considerado o "pai da medicina", foi o líder da "Escola de Cós" e direccionou a medicina para o conhecimento científico, livre da magia e das superstições. Recebeu os seus primeiros ensinamentos do pai e estudou também Retórica e Filosofia. Acabou por tornar-se no maior médico da sua época.
Conta-se que a sua fama ter-se-ia criado após uma epidemia de peste que assolou Atenas pois Hipócrates, vendo que os artesãos que se encontravam perto do fogo eram aqueles que mais resistiam à doença, teria mandado acender fogueiras por toda a cidade, extinguindo a epidemia.
A Hipócrates associa-se o famoso "Juramento", proferido ainda hoje pelos alunos de medicina por ocasião da sua formatura:

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter os seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, os meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada a minha vida e a minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

http://net-biblio.blogspot.pt/2011/06/do-riso-e-da-loucura-por-hipocrates.html 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ESOPO

Esopo foi um escravo ao qual se atribui a paternidade da fábula enquanto género literário que, pensa-se, viveu entre 620 e 560 a.C. mas não há certeza em relação ao local onde nasceu. Acabaria por ser libertado pelo seu senhor, Idamon, porque conheceu o estadista Sólon na corte do rei Creso. Graças às suas fábulas Esopo conseguiu convencer o povo ateniense a manter Pisístrato, governador de Atenas e parente de Sólon, no poder, através da fábula "As rãs que queriam um rei". Assim, os cidadãos foram convencidos a manter o seu ditador.
Ainda se cria uma grande discussão acerca da existência de Esopo, uma vez que muitos defendem que este não existiu, sendo apenas uma personagem inventada. Contudo, Máximo Planudes (monge de Constantinopla) descreve Esopo como sendo um anão feio e disforme. A juntar a este facto sabe-se que, mesmo que Esopo tivesse existido, as suas fábulas não são decerto da sua autoria; efectivamente, as fábulas eram famosas entre os gregos e muitas delas têm mesmo origens orientais ou já milhares de anos.
Segundo Heródoto, Esopo teve uma morte violenta, sendo lançado de um precipício pelo povo de Delfos, devido ao sarcasmo das suas fábulas.


terça-feira, 13 de março de 2012

PLAUTO

Titus Maccius Plautus foi um dramaturgo romano que viveu durante o período republicano. Pouco se sabe da juventude, mas pensa-se que teria trabalhado como cenógrafo ou carpinteiro para o teatro, criando assim o gosto pessoal pela arte. Tendo o seu talento para a actuação sido descoberto, decidiu adoptar os nomes Maccius (personagem semelhante a um palhaço) e Plautus (que significa "pé-chato"). Foi tal o sucesso do poeta cómico que o seu nome passou a ser sinónimo de êxito ainda em vida. 
Do total das suas peças chegaram vinte e uma anos nossos dias, sendo que as suas comédias são exemplos das mais antigas obras em latim preservadas integralmente até à actualidade, sem descurar o facto de a maioria ser também adaptações de comédias gregas ao gosto romano. "Anfitrião" é a comédia mais apreciada na actualidade e tem sido alvo de várias adaptações no teatro, no cinema e na literatura.

segunda-feira, 12 de março de 2012

PORFÍRIO

Porfírio, ou Basílio Fenício, foi um filósofo neoplatónico e um dos mais importantes discípulos de Plotino, bem como compilador das suas obras. Escreveu também comentários às obras de Platão e Aristóteles. A sua obra mais importante é "Introductio in Praedicamenta", também conhecida por "Isagoge", que se tornou num texto importante nas escolas medievais.
Conta-se que Porfírio, após ter estudado com o romano Plotino, ganhou um tal horror ao corpo que se isolou num promontório da Sicília, evitando contacto humano. Plotino ouviu falar do sucedido e foi socorrer o discípulo, que convenceu de que o seu corpo era útil enquanto moradia da sua alma.
Sabe-se que casou com uma mulher chamada Marcella, uma estudante de filosofia que era viúva e que já tinha sete filhos; de resto, mais nada se sabe acerca da sua vida.

sexta-feira, 2 de março de 2012

EPICTETO

Epicteto foi um escravo nascido na Frígia por volta do ano 55 da nossa era que, contudo, acabou por tornar-se um filósofo de renome em todo o Império Romano.
Foi servo de Epafrodito, um secretário do imperador Nero; conta-se que era um homem muito severo e que tratava mal os seus empregados, de tal forma que uma vez deu um castigo tal a Epicteto que o deixou coxo para o resto da vida.
No ano 90 Diocleciano dá-lhe a liberdade e expulsou todos os filósofos de Roma; Epicteto, então, dirigiu-se para o Epiro onde passou a levar uma vida modesta e abriu uma escola de filosofia.
Em idoso tomou uma mulher como esposa, a fim de ter autorização para criar como seu um bebé que ia ser abandonado à nascença.
Epicuro faleceu cerca do ano 135 em Epiro, não deixando quaisquer escritos à semelhança de Sócrates (que apontava como o modelo do filósofo ideal). Tudo o que chegou aos nossos dias é fruto de um trabalho de arquivamento de Flávio Arriano, aluno de Epicteto e que, por devoção ao mestre, reuniu todas as notas de aula que o mestre dava aos seus alunos, compondo cerca de oito livros, dos quais apenas quatro chegaram aos nossos dias.

quinta-feira, 1 de março de 2012

EPICURO

Epicuro nasceu em Samos em 341 a.C. O seu pai, Néocles, foi um professor ateniense e implantou-lhe no coração o desprezo pela tirania; por seu turno a mãe fazia-se passar por médica da alma: ia de casa em casa sob o pretetxo de curar doentes com orações e encantamentos e assim ganhava a vida. Epicuro, ainda criança, era obrigado a acompanhá-la e a participar nas fraudes, facto que o levou na vida adulta a desprezar a superstição. Com catorze anos começou a ocupar-se da Filosofia e com dezoito mudou-se para Atenas, onde cumpriria dois anos de serviço militar e fundaria a sua própria escola destinada ao ensino da Filosofia; a escola de Epicuro mais não era jardim de sua casa, tanto que os seus alunos começaram a ser apelidados de "filósofos de jardim" e estava aberta a todas as classes, inclusive à dos escravos e das prostitudas. Isto porque, como defendia Epicuro, não há distinção de classes no reino do saber. Contudo tal facto levou a que não raramente se criassem boatos sobre a sua academia, frequentemente vista como um centro de devassidão quando, na verdade, mestre e alunos viviam juntos e levavam uma vida simples, a ponto de chegar à abstinência. É sabido que Epicuro tinha uma autoridade tão grande sobre os seus alunos que o lema dos mesmos fora de aulas era "Comporta-te sempre como se Epicuro te visse.".
Epicuro falecei aos 72 anos de idade em 270 a.C.; escreveu mais que 300 obras, contudo aos nossos dias apenas chegaram três cartas, as "Máximas Capitais", o "Testamento" e uma obra homónima da de Parménides de Eleia intitulada "Sobre a Natureza".

A inexistência de Deus

Para Epicuro o propósito de viver baseia-se em gozar a vida; mas, para que possamos gozá-la, devemos primeiro compreendê-la. Para isso temos que sabber quem somos, por que somos e o que somos, sendo que em relação a esta última pergunta para Epicuro não somos filhos de um deus benevolente, mas sim o resultado de uma Natureza indiferente; que tipo de deus racional destruiria na sua fúria os templos que lhe servem de culto arriscando-se a sair prejudicado e que tipo de deus benevolente pouparia uma criança da doença para depois a mandar morrer de um mal pior? A vida é, portanto, um acidente num universo mecânico e nada temos a temer dos deuses pois, como não nos criaram, não lhes devemos obediência nem somos seus escravos. O Universo é, sim, o resultado fortuito do movimento dos átomos através do espaço fortuito: esta é a teoria atómica de Epicuro.
Epicuro, ao contrário de muitos pensadores até então, nega a existência do Caos ou do nada, apresentando para isso três razões:

1. o Mundo não pode ter vindo do Caos porque nada pode ser criado do nada;
2. o Mundo não pode dissolver-se no Caos. O Universo, ou seja, o todo, já vem com uma máxima de matéria disponivel que se limita a moldar-se de acordo com o acaso, logo nada pode ser criado ou eliminado. Mesmo que o Mundo seja destruído isso não significa que a matéria que o compõe desapareça, antes vai formar ou pertencer a corpos novos.
3. como resultado da segunda razão, se nada se cria nem nada desaparece, apenas muda, a soma total de matéria permanece sempre a mesma.

O Mundo assenta numa infinidade eterna de coisas existentes, ou seja, átomos materiais; estes, portanto, nem nascem nem morrem, são imutáveis, dotados de movimento (sendo que é graças a ele que os vários átomos colidiram e formaram os corpos celestes e o que neles habita) e têm pesos e formas diferentes (desta forma Epicuro procurou explicar a diversidade de seres que habitam o mundo). Para mais, o nosso mundo não é o único que existe: Epicuro admite a existência de outros mundos que a mecânica universal do acaso também proveu com vida, com átomos com outras formas e combinações e portanto distinta da nossa.
Contudo, se Deus não existe, por que é que mesmo assim é importante que os homens se preocupem com os deuses? Epicuro explica que se os homens procurarem tornar-se divinos acabarão por finalmente tornar-se humanos; não apenas bestas escravas da sua vontade cega e imoral. Só na procura pela divindade se atinge a humanidade, portanto a verdadeira religião não é aquela que exige o sacrifício, assenta em superstições e cria o medo e sim aquela que fomenta a imitação dos deuses.

O Mundo e o Homem

O Mundo foi por si mesmo gerado como resultado da colisão acidental de um infinidade de átomos. Contudo, como sepode explicar que, nesse processo de criação do Mundo e da vida que o compõe, se tenha criado de entre uma infinidade de homens um excelso Homero? Ou qualquer outro homem singular? Epicuro responde, ao contrário da crença humana de que esses homens foram abençados pelos deuses, que tudo isso foi tão-somente resultado de tentativa e erro; pelo desenvolvimento gradual da matéria; pela eliminação dos incapzes e a sobrevivência dos mais aptos. A evolução, portanto.
No início a Terra, resultante da colisão de átomos em movimento, não passava de uma massa de argila, sem vida. Só mais tarde surgiram os elementos vegetais como a relva, os arbustos e as flores e finalmente, aí sim, apareceram os animais: a vida. O homem foi o último a aparecer em cena e andava totalmente nu, solitário, procurando defender-se dos animais ferozes dia após dia e assim errou pelo Mundo. Eventualmente vários homens perceberam que se se juntassem e refugiassem em cavernas ficariam muito mais protegidos. Este ajuntamento de pessoas, além de fomentar a sedentarização, levou ao desenvolvimento da fala e dos primeiros sentimentos de amizade. Então esses grupos de uma caverna começaram a trocar bens e ideias - e até violência - com outros grupos de outras cavernas e assim nasceu a guerra, o comércio, as artes e o conhecimento. Assim,  nossa civilização é mais do que um processo de evolução que capacita o homem a adaptar-se a um mundo cruel e a lutar pela sobrevivência. Isto já nos disse Epicuro no seu tempo.
A morte é simplesmente o fim da existência e a alma é mortal pois, tal como o corpo, teria também que ser feita de átomos individuais para existir, apenas não unidos de uma forma tão rígida e sim como algo mais semelhante ao ar ou à água. O corpo sólido funciona como um recipiente que contém os átomos da alma juntos. Quando o corpo morre e se rompe, os átomos que compõem a alma são libertados e voltam simplesmente para onde vieram, eventualmente participando em novas colisões de átomos e novas criações materiais. Por isso fora do corpo não há nem pensamento, nem memória, nem entendimento, nem sensação, nem vida.

Premissas para a felicidade

Epicuro diz-nos que, já que portanto não podemos subjugar a morte, podemos ao menos demsistificá-la para que não vivamos sempre com medo dela; afinal, por que é que se há-de ter medo daquilo que nos liberta das loucuras em que anda o Mundo? Assim, ponhamos de lado o medo da morte e pensemos apenas nas vitórias que podemos conseguir ao menos em vida; e mesmo por essas não devemos sofrer com o medo de não termo para as alcançar, pois a morte liberta-nos também do sofrimento de as não ter alcançado.
Se no início Epicuro pregava uma vida hedonista, aos poucos foi-se apercebendo que o maior prazer é, na verdade, a completa ausência de dor. Propõe-nos que nos comportemos como consciências que apenas observam, à distância, as inquietações e tumultos do Mundo. Ver a vida como se fora um filme, mas sem nunca participar nesse filme. Aqui entre nós, acho que todos temos noção de que, se de repente toda a gente se tornasse rigidamente epicurista, o mundo paralizaria... Mas o epicurismo pode ser de inegável valor desde que assumido dentro do que é necessário para cada um.
Para Epicuro apenas por uma coisa valia verdadeiramente a pena lutar em vida: a amizade. A única maneira de sermos felizes consiste em convidarmos os outros a partilhar a nossa felicidade. A amizade surge, então, como o único dom e acto de piedade do Mundo para nos reconciliar com a vida, já que a libertação dos seus sofrimentos só acontecerá na morte.

Obras

A Hérodoto - A Meneceu - A Pitocles - (...)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

OVÍDIO

Publius Ovidius Naso nasceu a 20 de Março em 43 a.C e foi um poeta romano. Os pais esperavam que ele fosse a ser um grande jurista, contudo cedo demonstrou ser mais emocional e pouco fluente na arte de argumentar.
A sua poesia trata essencialmente do quotidiano e boémio. Algumas das suas obras mais famosas são "Heroides" "Amores" e "Ars Amatoria", uma trilogia de poesia erótica  e o "Medicamina Faciei Feminae", um livro de cosméticos para mulheres.
Sabe-se que levava uma vida boémia, casando três vezes e divorciando-se duas e que era admirado como grande poeta, contudo o seu estilo de vida cedo levaria a que fosse exilado poucos anos antes da sua morte pelo imperador Augusto, que achava o seu "Ars Amatoria" imoral.
Ovídio faleceu no exílio no ano 17 da nossa era antes de conseguir concluir um a sua última obra, que tratava da arte da pesca e cujas razões para o tema ainda são desconhecidas, uma vez que Ovídio nunca pareceu demonstrar qualquer interesse nesse tipo de assuntos.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SÓFOCLES

Sófocles nasceu em Colono (Atenas) cerca de 496 a.C, filho de um armeiro rico que lhe deu uma esmerada educação. Foi o segundo dos três grandes poetas trágicos gregos, bem como o mais bem sucedido em vida (ganhou vinte vezes o primeiro prémio e nunca ficou em terceiro lugar). A sua obra "Antígona" valeu-lhe o cargo de estratego na guerra de Samos, contudo rapidamente se afastou da política ao notar nos atenienses um certo espírito autoritário, algo que não lhe serviu, pois sempre tentava vencer com a razão. Era também exímio atleta, actor e corega. Aristóteles usa-o frequentemente como modelo por representar os homens "como deveriam ser" e não como eram à maneira de Eurípides. Sabe-se também que escreveu mais que 120 peças, contudo apenas chegaram sete aos nossos dias.
 Sófocles faleceu com noventa e um anos, não se sabe se em 406 ou 405 a.C.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ÉSQUILO

Ésquilo é o mais antigos dos três grandes poetas trágicos gregos, sendo por isso considerado o pai da tragédia. Sabe-se que vinha de uma família de eupátridas (aristocracia) e que vivia com uma condição abastada.
Cumpriu, como cabia aos jovens de Atenas, serviço militar e participou em várias campanhas militares, entre elas as Guerras Persas junto com seu irmão, que acabaria por perecer e que lhe haveria de dar o mote para a sua tragédia "Os Persas".
Poeta trágico de grande reputação, só veria o auge da sua carreira ocorrer com a morte de Frínico, seu principal rival; a partir daí, passou a arrecadar primeiros prémios com frequência.
Morreu cerca de 456 a.C., alega-se, morto por uma tartaruga que uma águia teria derrubado das alturas, contudo não se confirma a veracidade deste episódio.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

EURÍPIDES

Eurípides nasceu em Salamina em 480 a.C. e é. com Sófocles e Ésquilo, um dos maiores poetas trágicos gregos da antiguidade e o que mais influenciou o teatro e a ópera modernos. Contudo, quase nada se sabe da vida do poeta, excepto que terá falecido desiludido com a natureza humana em reclusão após uma vida inteira de quase marginalidade.

http://net-biblio.blogspot.com/2011/05/hipolito-por-euripides.html
http://net-biblio.blogspot.com/2011/06/medeia-por-euripides.html

sábado, 25 de fevereiro de 2012

PLATÃO

Platão Nasceu em Atenas em 428 a.C proveniente de uma família da antiga nobreza; sabe-se que era descendente de Sólon por parte da mãe e do rei Codro por parte do pai. O seu verdadeiro nome era Arístocles contudo cedo os conterrâneos lhe colocariam o nome Platão, que significa "amplo", dado que tinha uns ombros excepcionalmente largos. Em jovem familiarizou com Crátilo, discípulo de Heraclito, tomando conhecimento com a doutrina heraclitiana. Com vinte anos começou a ser discípulo de Sócrates e foi-o até 399, ano da morte do mestre e que o levou a afastar-se uns tempos de Atenas: com efeito, as suas tentativas de salvar Sócrates da prisão tinha-no deixado em evidência. Quando regressou, instalou uma escola de Filosofia no Jardim Público de Atenas, que ficou conhecida como a Academia e que é considerada a primeira universidade da História.
Desde muito jovem que sempre se deixou dominar por interesses espirituais e políticos, tanto que pensava tornar-se um grande estadista. A restauração da democracia envolveu-o na vida política mas a condenação de Sócrates à morte cedo lhe criou no espírito repulsa pelo sistema político que vigorava. A partir daí, Platão dedicou grande parte do seu tempo a idealizar como se poderia melhorar a política de um Estado e acreditou que tal só seria possível com recurso à Filosofia e só esta poderia defender correctamente a Justiça. Como tal, à semelhança de Confúcio, não lhe bastou apenas idealizar: queria pôr em prática. Tornou-se sábio do tirano de Sicarusa, Dionísio, tendando ensiná-lo a governar como um homem sábio. Assustado com as ideias radicais de Platão, o rei vendeu-o como escravo. Platão seriacomprado por Aníceris de Cirene, um amante da Filosofia que o libertou e mandou de volta para Atenas. Já na sua cidade-natal, Platão recebeu uma carta de Dionísio na qual pedia desculpas, explicava que fora tudo um terrível engano e pedia que Platão o perdoasse. A essa carta, Platão limitou-se a responder "Estou demasiado ocupado com a minha Filosofia para perder tempo a pensar em Dionísio".
O caso de Dionísio de Siracusa não foi único: ao longo da sua vida Platão recebeu vários convites de governantes que, tomando conhecimento da sua boa fama enquanto pensador e do sucesso das suas ideias, o quiseram como planeador dos seus sistemas políticos; contudo, as ideias de Platão eram demasiado revolucionárias, acabando sempre por ser dispensado
Platão faleceu em 347 a.C com a idade de 81 anos, vítima de uma febre violenta.

"A República", ou "a primeira Utopia da História"

Espreitemos aquelas que são as características básicas do estado-modelo idealizado por Platão. Nesse Estado as crianças seriam o resultado de uma união comunal e não fruto de um casamento; na verdade o amor seria livre, tanto para homens como para mulheres, pois ninguém é propriedade de ninguém e os melhores homens unir-se-iam com as melhores mulheres a fim de produzirem uma prole superior. Essas crianças seriam depois entregues ao Estado e teriam conhecimento de quem seriam os seus pais, mas também não teriam interesse em saber: dessa forma o indivíduo passa a pertencer à comunidade e aprende a respeitar todos de igual forma, pois todos são pais e filhos de todos.
Até aos vinte anos tanto as meninas como os meninos receberiam a mesma educação e trabalhariam e brincariam juntos; teriam uma educação à base de ginástica e música, a primeira para conseguirem a harmonia do corpo e a segunda com vista à harmonia da alma. De facto a música detém um papel essencial na educação para Platão: no seu entender, esta é o princípio fundamental que impede o mundo de cair no caos e é a alma do Universo, sendo as estrelas e os planetas o seu corpo. Haveria também uma preocupação em garantir que o ensino fosse prazer e não tortura.
Uma vez chegados aos vinte anos, os jovens seriam separados consoante as suas capacidades: aqueles que se mostrassem incapazes de espírito para continuarem a sua educação tornar-se-iam lavradores e comerciantes, criando a classe mais baixa; os restantes, até aos trinta anos, dedicar-se-iam ao estudo das Ciências, como sendo a Aritmética, a Geometria e a Astronomia.
Aos trinta anos proceder-se-ia a um processo semelhante ao anterior: aqueles que cessassem os seus estudos com esta idade tornar-se-iam soldados para garatinrem a guarda do Estado. Platão desprezava a guerra pelo que a existência de soldados refere-se a um poder meramente defensivo e nunca agressivo. Os restantes dedicar-se-iam ao estudo da Filosofia durante cinco anos e porteriormente à arte de bem governar. Por fim, aos cinquenta anos, estariam preparados para assumirem os seus papéis de governantes-filósofos: para Platão o Estado ideal deve sempre ser fovernado pelos melhores. Assim o Estado apresentado por Platão assenta numa sofocracia, ou seja, no governo dos mais sábios. Estes não teriam propriedade privada nem seriam remunerados pelas suas funções a fim de evitar que os mais corruptos e ávidos de posses e riqueza procurassem o poder; só aqueles verdadeiramente importados em estabelecer a justiça entre os homens é que se arriscariam em empreender tal tarefa.
O Estado idealizado por Platão apresenta-nos também outras características interessantes. Platão advogada a expulsão de Homero e outros semelhantes dos estudos dos jovens: efectivamente é um insulto à inteligência fazer as almas memorizar e acreditar em histórias fantásticas dos seus deuses e nas sus fraquezas humanas, que também não são bons exemplos; a religião teria que ser adaptada à razão e portanto libertada dos seus mitos e milagres. Entre os homens as relações deveriam ser preferencialmente imparciais e os advogados seriam um mal desnecessário, uma vez que numa sociedade consciente, educada e culta as pessoas seriam as polícias delas mesmas. Em relação aos criminosos estes seriam dignos de piedade e não punidos: como se pode tornar dócil um cavalo com açoites ou tornar social um indivíduo afastado da sociedade? Os criminosos deveriam ser educados e dignos de um especial cuidado e as suas punições deveriam, isso sim, assentar numa reintegração através do trabalho em prol da comunidade. Um criminoso preso e trancado entre quatro paredes, além de nada aprender, é totalmente inútil e um fardo. Para além disto Platão apresenta-nos também outras ideias progressistas como o apoio à eutanásia e a defesa da igualdade entre os géneros.
No final, a pricipal e única tarefa do governo, da qual se substrairiam todas as restantes premissas, assenta numa única ideia: assegurar a felicidade dos cidadãos.

Obras

A República - Symposion - Fedro - Fédon - Apologia de Sócrates - Críton - Timeu - Crítias - Filebo - Teeteto - Lísis - Laques - Cármides - Górgias - Parménides - Eutidemo - O Sofista - Protágoras - Crátilo - Íon - Ménon - Eutifron - As Leis