quinta-feira, 12 de abril de 2012

SANTO AGOSTINHO

Aurélio Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, em África. O seu pai, Patrício, era pagão e a sua mãe, Mónica, uma cristã fervorosa que em muito contribuiu para a conversão do filho. Jovem rebelde, levou uma vida desordenada e escrava das paixões humanas, algo de que se arrependeria mais tarde nas suas "Confissões de um pecador"; ao mesmo tempo, cultivava o estudo dos autores clássicos e da gramática, tanto que considerava as falhas gramaticais mais graves que um pecado mortal.
Aos 19 anos leu "Hortênsio", de Cícero e tão tocado ficou pela leitura que ganhou um profundo amor pela Filosofia. Começou também a ensinar retórica em Cartago. 
Aos 26 anos escreveu o seu primeiro livro, "Sobre o belo e o conveniente", livro esse que se perdeu. Ao mesmo tempo, começou a duvidar da doutrina dos maniqueístas quando viu que nem Fausto, o maniqueísta mais famoso do seu tempo, sabia responder a todas as perguntas. Só o exemplo e a palavra do bispo Ambrósio iriam persuadi-lo a aderir ao cristianismo, pelo que se tornou catecúmeno. O ponto culminante deu-se com a leitura dos escritos de Plotino, um retórico convertido ao cristianismo. Desta forma, Agostinho encontrou a sua orientação definitiva.
Em 386 Agostinho abandona o ensino e retira-se para uma pequena vila próxima de Milão, onde se dedica à meditação. Convence-se então de que a sua missão era a de difundir na sua pátria os ensinamentos cristãos e combater os inimigos do cristianismo.
Em 387, junto com o seu filho Adeodato (que faleceria em 389, com apenas 16 anos), Agostinho é baptizado e, em 391, voltou a Tagaste, onde foi ordenado sacerdote; quatro anos depois, em 395, foi consagrado bispo de Hipona, cargo que exerceu até à sua morte. Dedicou a maior parte da vida à procura da Verdade, que defendia residir no interior do Homem.
Agostinho faleceu a 28 de Agosto de 430. A sua biografia encontra-se escrita numa das suas maiores obras, "Confissões de um pecador", onde narra todo o seu trajecto desde a descrença à conversão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ARISTÓTELES

Aristóteles nasceu em Estagira em 384 a.C. e era filho de Nicómano, médico de Amintas III, rei da Macedónia e neto de Esculápio. 
Quando Aristóteles entrou na Academia fundada por Platão no ano 366 a.C. contava dezassete anos e lá permaneceu mais vinte anos até à morte do mestre, destacando-se durante esse tempo enquanto aluno, tanto que Platão observava que a sua Academia se compunha de duas partes - o corpo dos seus estudantes e o cérebro de Aristóteles. Efectivamente, evidenciava aptidões intelectuais incrivelmente variadas: política, drama, poesia, física, medicina, psicologia, história, lógica, astronomia, ética, história natural, matemática, retórica, biologia... tudo isto presente num jovem requintado e bem parecido que fora, via-se, educado para o sucesso. Apesar de todos os seus talentos, contudo, metre e aluno discordavam demasiado e entravam frequentemente em disputas.
Quando Platão morreu, Aristóteles contava trinta e sete anos; esperava também, dadas as suas aptidões e ao facto de ter sido um aluno insigne, ser o sucessor nomeado para dirigir a Academia. Contra o esperado, a Platão sucedeu Espeusipo, seu sobrinho e foi então que Aristóteles, ofendido, decidiu abandonar a Academia, uma vez que nunca iria conseguir tolerar o pensamento do sucessor. Assim transferiu-se para Asso, na Tróade, onde exerceu o seu primeiro ensino autónomo. Neleu converteu-se no seu mais fervoroso discípulo e não é por acaso, portanto, que a maior parte dos manuscritos de Aristóteles foram encontrados na casa de um dos descendentes de Neleu. Depois de três anos de permanência em Asso, Aristóteles transferiu-se para Mitilene.
Em 342 a.C. Aristóteles foi chamado por Filipe II, filho de Amintas III, novo rei da Macedónia, para ser o preceptor do seu filho Alexandre. Apesar de ser um homem inteligente, Filipe II revelava o temperamento - dito de modo simpático - "apaixonado" do seu povo e da sua família. A título de exemplo para ilustrar o ambiente que se vivia na corte dos reis da Macedónia, conta-se que num jantar no qual Aristóteles se encontrava presente, Alexandre insultou o seu pai Filipe II, que se levantou de punhal em riste para o matar com o ímpeto da fúria; e Alexandre, para que não o superassem, por seu turno também desfechou um ataque homicida contra o pai, tendo ambos que ser separados pelos presentes. Tal era o ambiente que Aristóteles, acostumado ao requinte e aos bons costumes, tentou suavizar com a sua sabedoria.
Filipe II da Macedónia acabou por ser assassinado e Alexandre, que não tinha o mesmo interesse do pai para com a filosofia, subiu ao trono. Após ter mandado enforcar Calístenes, sobrinho de Aristóteles que se recusou  adorar Alexandre como um deus, o sábio percebeu que não tinha mais nada a fazer na corte e regressou para Atenas após treze anos de ausência e onde viria a beneficiar da amizade do novo rei, que deu fundos à cidade para desenvolver a educação dos seus habitantes. Assim, Aristóteles fundou a sua escola, o Liceu, uma escola rival da Academia e que compreendia um edifício, um jardim e o passeio que lhe deu o nome. O Liceu tinha em comum com a Academia o facto de ser praticar uma vida em comunidade, com a diferença de haver uma ordem estabelecida. De manhã, Aristóteles leccionava cursos difíceis de argumento filosófico e de tarde dava lições de retórica e dialéctica.
Em 323 a.C. Alexandre morreu e criou-se uma insurreição da parte dos nacionalistas contra os apoiantes do rei. Temendo pela sua vida, até porque já estava a ser acusado pelos próprios atenienses de ser um espião a favor dos Macedónios e ameaçado de prisão, Aristóteles teve que fugir para Cálcis: referindo-se ao destino de Sócrates, explicou que não que queria proporcionar aos atenieneses "uma segunda oportunidade de pecar contra a filosofia". Faleceu meses depois, vítima de uma doença de estômago, com 63 anos. Pouco antes da sua morte escreveu a maior das suas obras porque marcou a época: um testamento que tratava da libertação dos seus escravos e que foi a primeira proclamação de afforria da História. Os seus restos mortais foram enterrados juntos de Pitia, sua esposa, conforme ambos desejavam.

Visão de Deus

A visão aristotélica de Deus não é a imagem clássica de um deus benevolente, amável e criador do Céu e da Terra; na verdade, o deus apresentado por Aristóteles não é Criador de nada. O criador é um ser insatisfeito, sonhador, que vive desejando algo que não existe, como tal é uma criatura imperfeita. Ora se Deus é perfeito, não pode ser Criador nem feliz ou infeliz. Um ser perfeito não sofre nem padece por paixões meramente humanas. Assim, Aristóteles apresenta Deus como o motor não movido do Universo: Deus não pode ser o resultado de nenhuma acção e sim a fonte de toda a acção e, mais uma vez, a necessidade de movimento é outra caracteristica terrena. Deus, na sua omnipotência, não necessita de realizar qualquer acto para realizar as suas vontades mas como não as tem por não ser sonhador também nada faz.
O facto é que Deus não se interessa pelo Mundo, muito embora o Mundo se interesse por Deus; mais uma vez interessar-se pelo mundo significaria estar sujeito a uma emoção e Deus, ser perfeito, é imutável e sem paixão. Ser Supremo frio e impessoal, amado por todos os homens mas indiferente aos seus destinos, Deus apresenta-se assim como uma estátua em pedra de uma bela mulher no meio de um jardim: não sente qualquer tipo de emoção nem evoca qualquer tipo de pensamento ou acção, contudo os homens seguem-na, admiram-na e desejam-na. Nada faz contudo o mundo humano gravita à sua volta. É aquilo que faz mover os homens todos os dias em direcção ao jardim. É, novamente, o motor não movido do Universo.

Forma ideal de governo

Aristóteles estudou todas as formas de governo postas em prática até à altura: analisou-as, reconheceu-lhes as potencialidades e apontou-lhes os defeitos. Na sua análise concluiu que a ditadura é a pior de todas as formas de governo e subordina os interesses de todos à decisão de um só e vice-versa; isto porque a ditadura da multidão é tão má como a ditadura do indivíduo por oposição à democracia, que "paerece ser a mais segura e menos exposta à revolução do que qualquer outra forma de governo"
A forma de governo mais desejável é aquela que "permite a cada homem, seja quem for, exercitar as suas melhores habilidades e viver o mais agradavelmente os seus dias" e terá que ser sempre constitucional: qualquer governo sem constituição é tirania e Aristóteles destacou-se também na redacção de constituições para os povos do seu tempo. Não deveria ser comunista pois segundo Aristóteles o comunismo, ao estipular a responsabilidade colectiva, trará também a negligência individual: por que nos haveríamos de preocupar com certas tarefas se elas são da responsabilidade de todos e alguém o fará? O comunismo, portanto, destruiria a responsabilidade social. Aristóteles advoga também a posse de propriedade privada e o desenvolvimento particular do carácter de cada um, sendo que ambos deveriam estar voltados para o bem-estar público. Cabe ao legislador prover os interesses públicos por meio da altruística reciprocidade dos interesses privados dos cidadãos.
Aristóteles defende que não deve haver uma distinção rígida entre classes, sendo possível cada um subir e descer de hierarquia social; todos devem ter a oportunidade de governar e de serem governados sem distinção, embora juntando uma pequena adenda segundo a qual "os velhos são os mais indicados para governar e os jovens para obedecer". A classe dirigente deve mostrar uma especial preocupação para com a educação dos jovens (que seria prática e ideal) e o seu objectivo primordial traduz-se na satisfação da felicidade dos indivíduos digiridos por meio da justiça. Mas o que é a felicidade?

A felicidade de Aristóteles

Muito genericamente, Aristóteles define a felicidade como o estado agradável do espírito decorrente do exercício das boas acções: estas seriam resultado da virtude. Contudo isto não basta: há outros ingredientes que Aristóteles aponta como necessário a uma vida feliz, como ser-se dotado de certos bens (boa origem, boa aparência, boa fortuna, bons amigos...), uma vida longa e sadia e nobreza moral, da qual a virtude não aparece como sinónimo. O indivíduo virtuoso, ao contrário da conotação que damos actualmente, é aquele indivíduo que é excelso em qualquer tipo de excelência: a palavra "virtude", que nos foi trazida do latim "virtus", veio do grego "arete" e refere-se a Ares, o deus da guerra. A virtude significa literalmente "qualidade de varão". Assim, um homem casado que tivesse muitas mulheres, por muito imoral que fosse, seria um indivíduo virtuoso no que toca às artes da conquista e um Hitler cruel é um virtuoso estadista. A virtude de Aristóteles é puramente técnica - poderia traduzir-se em eficiência - e não depende da moralidade.
As boas acções de que fala Aristóteles também não se referem ao auto-sacrifício e têm na verdade em vista a auto-preservação: o Homem faz parte de um todo social e cada boa acção que dispender pelo bem comum é na verdade uma forma de auto-benefício; para mais, todas as boas obras estão destinadas a serem retribuídas com juros, sendo portanto vistas como um emprego de capital.

Obras

148 Constituições - Diálogos - Da Monarquia - Alexandre - Os costumes dos bárbaros - História Natural - Organon - Da Alma - Retórica - Lógica - Ética a Eudemo - Ética a Nicómano - Física - Metafísica - Política - Poética - (...)

terça-feira, 10 de abril de 2012

HIPÓCRATES

Hipócrates, considerado o "pai da medicina", foi o líder da "Escola de Cós" e direccionou a medicina para o conhecimento científico, livre da magia e das superstições. Recebeu os seus primeiros ensinamentos do pai e estudou também Retórica e Filosofia. Acabou por tornar-se no maior médico da sua época.
Conta-se que a sua fama ter-se-ia criado após uma epidemia de peste que assolou Atenas pois Hipócrates, vendo que os artesãos que se encontravam perto do fogo eram aqueles que mais resistiam à doença, teria mandado acender fogueiras por toda a cidade, extinguindo a epidemia.
A Hipócrates associa-se o famoso "Juramento", proferido ainda hoje pelos alunos de medicina por ocasião da sua formatura:

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter os seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, os meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada a minha vida e a minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

http://net-biblio.blogspot.pt/2011/06/do-riso-e-da-loucura-por-hipocrates.html 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

ESOPO

Esopo foi um escravo ao qual se atribui a paternidade da fábula enquanto género literário que, pensa-se, viveu entre 620 e 560 a.C. mas não há certeza em relação ao local onde nasceu. Acabaria por ser libertado pelo seu senhor, Idamon, porque conheceu o estadista Sólon na corte do rei Creso. Graças às suas fábulas Esopo conseguiu convencer o povo ateniense a manter Pisístrato, governador de Atenas e parente de Sólon, no poder, através da fábula "As rãs que queriam um rei". Assim, os cidadãos foram convencidos a manter o seu ditador.
Ainda se cria uma grande discussão acerca da existência de Esopo, uma vez que muitos defendem que este não existiu, sendo apenas uma personagem inventada. Contudo, Máximo Planudes (monge de Constantinopla) descreve Esopo como sendo um anão feio e disforme. A juntar a este facto sabe-se que, mesmo que Esopo tivesse existido, as suas fábulas não são decerto da sua autoria; efectivamente, as fábulas eram famosas entre os gregos e muitas delas têm mesmo origens orientais ou já milhares de anos.
Segundo Heródoto, Esopo teve uma morte violenta, sendo lançado de um precipício pelo povo de Delfos, devido ao sarcasmo das suas fábulas.