segunda-feira, 21 de julho de 2014

PETRÓNIO

Petrónio, que nos chegou para a posteridade enquanto "pai do romance", foi um escritor romano e frequentador da corte de Nero, do qual era conselheiro. Pouco se sabe sobre a sua vida e mesmo a sua identidade tem sido frequentemente objecto de discussão. Sabe-se sim que Petrónio consagrava a sua vida à libertinagem e aos prazeres, a tal ponto que o próprio imperador só aceitava algo como prazeroso após a aprovação do próprio Petrónio. Tal acabou por despoletar invejas na corte e o seu rival, Tijelino, envenenou o espírito do imperador contra o conselheiro. Petrónio acabaria por ser feito prisioneiro enquanto Nero viajava. Incapaz de conviver com a angústia de se saber entregue à vida ou à morte, o autor acabou por cometer um lento e jocoso suicídio, no qual abria e fechava as veias lentamente enquanto discursava sobre os prazeres da vida. No final, após ter tornado a morte numa prazerosa sensação de sono, adormeceu com naturalidade, não sem antes mandar uns recados ao imperador e castigar uns escravos.
As poucas obras de Petrónio que chegaram até nós são, com efeito, o reflexo do estilo de vida do autor. Hoje, contudo, detêm o papel de documentos vivos sobre a vida aristocrática romana, com a sua opulência e a sua fraqueza, com a sua ruiqueza material e a sua pobreza espiritual, com os seus prazeres e as dores de que eram compostos.

sábado, 14 de dezembro de 2013

APULEIO

Apuleio nasceu por volta de 125 em Madauros, na Argélia. O seu nome próprio é desconhecido (Apuleio é um apelido) mas pensa-se que possa ser Lúcio. Era filho de um duumuir (magistrado principal) que, deixando-lhe com a sua morte dois milhões de sestércios, lhe deu a possibilidade de usufruir de uma educação superior e de viajar. Seguindo-se-lhe dificuldades económicas causadas muito possivelmente por má gestão da fortuna, Apuleio contraiu matrmónio com a rica Emilia Pudentila, mão de um colega de estudos chamado Ponciano, o que lhe iria valer a grave acusação em tribunal de ter despertado o amor em Pudentila graças a artes mágicas (uma vez que Apuleio sempre demosntrara grande interesse pela alquimia e pelo oculto), acusação que poderia tê-lo conduzido à pena de morte.
Ao longo da sua a vida, para além da actividade literária, Apuleio dedicou-se a difundir as ideias platónicas que aprendera em Atenas. Já em Cartago aprofundou estudos na área da poesia, geometria, música e filosofia.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PLUTARCO

Plutarco foi um filósofo, biógrafo, ensaísta e moralista grego que nasceu em Queroneia em 46 d.C. Estudou Ciências, Matemática, Filosofia e Retórica na Academia de Atenas, que havia sido fundada por Platão. Mais tarde viveu em Roma, onde deu aulas de Grego e Filosofia Moral e se tornou magistrado e embaixador. Também foi um sacerdote de Apolo no Oráculo de Delfos, que ficava perto da sua cidade natal. Devido ao seu grande prestígio, acabou por ganhar direitos de cidadão quer em Atenas, como em Delfos e em Roma.
Pliutarco morreu na mesma cidade onde nascera em 125 d.C. e os seus escritos, posteriormente, influenciaram vultos como Shakespeare, Montaigne e Rosseau.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

VIRGÍLIO

De verdadeiro nome Publius Vergilius Maro, nasceu no ano 70.C. em Mântua, pertencendo ao último século da era pré-cristã. Terá estudado as obras-primas da literatura grega e alexandrina, bem como a filosofia epicurista e acabou os seus estudos no ano 50 a.C. numa altura conturbada; o facto é que Virgílio assistiu a variadas convulsões políticas e sociais: desde o reacendimento da guerra civil ao assassinato de César e fim da sua ditadura em 44 a.C, acabando o poeta por ser expulso da sua província entre 42 e 40 a.C. devido a perturbações de ordem política. O que importa reter do resultado dos seus estudos é que Virgílio revelou ser extremamente culto: a sua cultura geral abarcava as letras, a filosofia, a história e foi mesmo até à matemática, ciências naturais e medicina.
No ano 31 a.C. Octávio (que se tornará mais tarde o imperador Augusto) restabelece a paz numa batalha que culminou na a morte de António e de Cleópatra, contudo Virgílio não mais voltará à sua terra natal. Ainda assim e poucos anos depois, a 27 a.C., concebeu o projecto de erigir uma homenagem à glória do imperador: "A Eneida", um poema épico e nacional. Nos anos que se sucederam ao início da redacção da epopeia, Virgílio dedicou-se a viajar com o intuito de visitar os locais em que passassem os episódios da sua narrativa para obter inspiração, informações históricas e dar um cunho de veracidade à obra. Aquando a sua visita a Mégara adoeceu e teve que retornar a sua casa em Atenas, onde viria a falecer no dia 21 de Setembro de 19 a.C. "A Eneida" é, assim, um livro póstumo.

PARMÉNIDES DE ELEIA

Parménides, cidadão de Eleia, teria nascido entre 540 e 439 a.C. segundo as indicações de Apolodoro, mas esta informação entra em oposição com o testemunho de Platão (grande admirador de Parménides) que afirmava que o mesmo teria sessenta e cinco anos quando conhecera Sócrates ainda muito jovem em Atenas. Assim, Parménides teria nascido algures entre 516 e 511 a.C e foi o primeiro a expor a sua filosofia em verso, exemplo que só seria retomado mais tarde por Empédocles. Do grande poema de Parménides "Da Natureza", contudo, só nos restam fragmentos que perfazem um total de cento e cinquenta e quatro versos.
Segundo Diógenes Laércio, Parménides, rico e virtuoso, teria sido discípulo de Xenófanes e de Anaximandro e ter-se-ia associado aos pitagóricos Amínias e Diochaito. Sabe-se que Parménides exerceu um grande impacto em Platão (que o apresentou para a posteridade como um velho homem de cabelo quase branco, elegante e de porte distinto) e que, para expressar a sua admiração, lhe dedicou um diálogo.

Algumas ideias

- o todo é finito, equidistante do centro;
- Deus é imutável, limitado e esférico;
- Tudo se processa em função da necessidade, que consiste numa conjuntura de fatalidade, justiça e providência criadora do mundo.

http://d-natureza.blogspot.pt/

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quarta-feira, 17 de julho de 2013

MARCO AURÉLIO

Com Marco Aurélio o estoicismo sobe ao trono imperial de Roma.
Marco Aurélio nasceu em 121 d.C. no seio de uma família nobre. Foi aos onze anos que Marco Aurélio decidiu ser filósofo; contra os hábitos da sua condição adoptou os trajes pobres dos filósofos, passou a comer menos e a dormir numa dura enxerga.
Aos dezoito anos o seu tio, o imperador Antonino Pio, adoptou-como filho para que fosse seu sucessor. O jovem Marco Aurélio era portanto o herdeiro do vasto Império; contudo apenas o império do espírito lhe interessava. Lastimava-o não poder dedicar a sua vida simplesmente ao estudo da Filosofia e a limitar-se a ser um nobre homem em vez de um homem nobre. Marco António foi assim educado da melhor maneira possível como comvinha a um futuro estadista que teria nas suas mãos o futuro da nação romana: teve aulas de Retórica, História, Política e das artes da guerra. A ele foi-lhe concedido o título de César. Entretanto Marco António vivia uma vida dupla: diante da corte comportava-se como um cortesão; nas suas horas vagas especulava sobre o que lhe dava prazer.
No ano 161 d.C. Antonino Pio morreu e Marco António subiu ao trono. Tempos conturbados esses que apanhou! Nessa altura Roma morria por dentro e por fora, assolada pelo crescente descrédito e descontentamento dos cidadãos romanos e a cobiça dos povos bárbaros ante a sua riqueza material, porque a espiritual já a nação já havia perdido há muito tempo. Roma era um sonho da qual se acordava lentamente e aquilo que ela fora perdia-se na névoa da memória. Ao ficar com tamanho encargo, o jovem rei-filósofo somente colocou para si mesmo uma condição: "Toma cuidado para não te transformares em César".
A vida de Marco Aurélio foi passada maioritariamente na sua tenda em campos de batalha. Herdara um Império a desmoronar-se e era seu dever, pelo menos, remendá-lo. Quando não estava em batalha ocupava-se da escrita. Da espada passava à pena; do coração passava à cabeça e logo ele que quanto não daria para se ocupar apenas da pena e da cabeça!
É célebre o episódio que foi tido como um milagre durante uma batalha entre as legiões romanas e os Quados; estes últimos, superiores em número, cortaram os suplimentos de água aos romanos que, com o passo lento dos dias, começaram a padecer de sede. Esperavam enfrentá-los no auge da fraqueza. Mas não é que então o céu se encheu de nuvens e começou a chover! Os romanos sedentos estenderam então os capacetes, encheram-nos e beberam à sua vontade. Ao mesmo tempo os relâmpagos acertaram no acampamento dos Quados e queimaram-nos. Os romanos atribuíram logo o termo de "milagre" ao sucedido e bendisseram Marco Aurélio e as coisas estranhas em que acreditava sobre um nazareno carpinteiro. O facto é que Marco Aurélio, apesar de ter sido educado como pagão, era cristão no seu íntimo e fazia-se acompanhar de recrutas que também o fossem. Ante o júbilo dos romanos, o imperador rejeitou o milagre: nao acreditava num Deus punitivo e destruidor e sim naquele Deus que prega a bondade e o amor entre os homens. Tal sucedido não poderia portanto ser da autoria do mesmo Deus. Num dos seus escritos diz-nos Marco Aurélio "Não posso zangar-me com os meus irmãos nem afastar-me deles. Porque somos, por natureza, feitos para nos ajudarmos uns aos outros."
Contudo, para além das incessantes guerras, mais um duro golpe havia de esperar o imperador: Avídio Cássio, o seu melhor amigo e general, crendo que com a sua força e audácia seria muito melhor governante que um filósofo de braço leve ergueu uma revolta, procurando apropriar-se do trono. Após espalhar a notícia de que o imperador morrera, convocou legiões inteiras para que o apoiassem como novo imperador e desafiou Marco Aurélio para uma batalha. Ao reunir as suas tropas para aceitar o desafio, disse-lhes "Companheiros de armas! O meu melhor amigo conspirou para me derrubar e obrigou-me, contra a minha vontade, a aceitar o combate. (...) Só uma coisa temo: que Avídio Cássio possa matar-se para poupar-se à vergonha de vir à minha presença ou que qualquer outro possa matá-lo ao saber que me encontro em marcha para a batalha. Nesse caso roubar-me-iam o prémio maior do vencedor: perdoar ao homem que procedeu mal contra mim e continuar amigo daquele que rompeu os laços de amizade que nos unia." Infelizmente, conforme a sua previsão, Avídio Cássio acabou por ser assassinado. Finda a rebelião, Marco Aurélio impediu que os rebeldes fossem executados e mandou-os de volta para as suas casas e em paz. Episódios como esse contribuíram imenso para a impopularidade do imperador ante os seus conterrâneos.
Depois da tempestade chega a calma e Marco Aurélio, quando sentiu que era apropriado, empreendeu uma longa viagem na qual visitaria as cidades que se tinham aliado à conspiração. Ia, contudo, na tentativa de restabelecer um laço com elas e não para as punir, pois o imperador escolhia o perdão à frente da vingança. Infelizmente, sucede-se um novo golpe: Faustina, sua esposa e prima, adoeceu e morreu. Mandou então, com o degsosto, construir uma estátua de ouro de Faustina para que o acompanhasse nas suas batalhas e, em sua memória, fundou um lar para meninas órfãs.
Em 179 d.C. derrotou a última das tribos rebeldes e poder-se-ia esperar que finalmente o imperador pudesse cessar em grande parte os seus deveres militares; mas, longe de ter tréguas, o imperador-filósofo contraiu uma doença durante a sua última campanha que o levaria à morte um ano depois. Imperador-filósofo que preferia ter sido Filósofo-imperador. Mas por mais rico que seja o espírito de um homem e forte o seu braço, quão fraco ele pode também ser! Os humanos são facilmente corrompíveis e o pobre imperador, que em toda a sua vida mais não queria que dedicar-se ao estudo da Filosofia e almejava o amor entre os homens, influenciado pela aura imperialista romana deixou-se corromper lentamente. Ele, que bebia o amor do carpinteiro nazareno, crucificado pelos romanos que governava, deu por si a crucificar já no fim da vida os chefes daqueles que vencia. "Si fueris Romae, romano vivito more". Como se cortuma dizer, "em Roma, sê romano. E Marco Aurélio, que dizia que o seu corpo era romano mas que o seu espírito pertencia ao mundo, acabou por romanizar-se por inteiro. "Toma cuidado para não te transformares em César" advertira-se. E contudo a sombra de um césar César, ou líder de armas, foi o que o imperador acabara por tornar-se ao longo da vida.
O imperador-filósofo morreu em 180 d.C. com a idade de cinquenta e nove anos, deixando um escrito composto por aforismos, intitulado "Meditações", dividido em doze volumes.

...

Reza uma história tradicional que, quando Marco António morreu, os vários deuse organizaram um banquete para celebrar a sua chegada. Presentes encontravam-se outros tantos imperadores mais antigos que iniciaram um concurso para decidirem qual de entre eles fora o maior romanos. Assim, cada imperador na sua vez foi-se vangloriando dos seus feitos em vida, cada um mais valoros que o outro. Por fim chegou a vez de Marco Aurélio; este encolheu os ombros e disse simplesmente "Eu, humile filósofo tive apenas como única ambição de nunca fazer mal a ninguém.". Então foi ele coroado o maior dos romanos. Contudo não o maior dos homens: porque o Marco Aurélio filósofo, aquele que não desejava o mal de ninguém e que ironicamente teve que o causar para responder às exigências do Estado, foi prejudicado pelo Marco Aurélio imperador.

Algumas ideias

- A derradeira esperança da Humanidade está em não ter esperanças, pois não tendo esperança o Homem liberta-se da desilusão;
- Justiça para com os semelhantes;
- Indiferença perante o destino;
- Destemor perante a morte sendo que esta, à semelhança de Epicuro, consiste na dissolução dos elementos que compõem o ser humano.

Obra

Meditações


quinta-feira, 12 de abril de 2012

SANTO AGOSTINHO

Aurélio Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, em África. O seu pai, Patrício, era pagão e a sua mãe, Mónica, uma cristã fervorosa que em muito contribuiu para a conversão do filho. Jovem rebelde, levou uma vida desordenada e escrava das paixões humanas, algo de que se arrependeria mais tarde nas suas "Confissões de um pecador"; ao mesmo tempo, cultivava o estudo dos autores clássicos e da gramática, tanto que considerava as falhas gramaticais mais graves que um pecado mortal.
Aos 19 anos leu "Hortênsio", de Cícero e tão tocado ficou pela leitura que ganhou um profundo amor pela Filosofia. Começou também a ensinar retórica em Cartago. 
Aos 26 anos escreveu o seu primeiro livro, "Sobre o belo e o conveniente", livro esse que se perdeu. Ao mesmo tempo, começou a duvidar da doutrina dos maniqueístas quando viu que nem Fausto, o maniqueísta mais famoso do seu tempo, sabia responder a todas as perguntas. Só o exemplo e a palavra do bispo Ambrósio iriam persuadi-lo a aderir ao cristianismo, pelo que se tornou catecúmeno. O ponto culminante deu-se com a leitura dos escritos de Plotino, um retórico convertido ao cristianismo. Desta forma, Agostinho encontrou a sua orientação definitiva.
Em 386 Agostinho abandona o ensino e retira-se para uma pequena vila próxima de Milão, onde se dedica à meditação. Convence-se então de que a sua missão era a de difundir na sua pátria os ensinamentos cristãos e combater os inimigos do cristianismo.
Em 387, junto com o seu filho Adeodato (que faleceria em 389, com apenas 16 anos), Agostinho é baptizado e, em 391, voltou a Tagaste, onde foi ordenado sacerdote; quatro anos depois, em 395, foi consagrado bispo de Hipona, cargo que exerceu até à sua morte. Dedicou a maior parte da vida à procura da Verdade, que defendia residir no interior do Homem.
Agostinho faleceu a 28 de Agosto de 430. A sua biografia encontra-se escrita numa das suas maiores obras, "Confissões de um pecador", onde narra todo o seu trajecto desde a descrença à conversão.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ARISTÓTELES

Aristóteles nasceu em Estagira em 384 a.C. e era filho de Nicómano, médico de Amintas III, rei da Macedónia e neto de Esculápio. 
Quando Aristóteles entrou na Academia fundada por Platão no ano 366 a.C. contava dezassete anos e lá permaneceu mais vinte anos até à morte do mestre, destacando-se durante esse tempo enquanto aluno, tanto que Platão observava que a sua Academia se compunha de duas partes - o corpo dos seus estudantes e o cérebro de Aristóteles. Efectivamente, evidenciava aptidões intelectuais incrivelmente variadas: política, drama, poesia, física, medicina, psicologia, história, lógica, astronomia, ética, história natural, matemática, retórica, biologia... tudo isto presente num jovem requintado e bem parecido que fora, via-se, educado para o sucesso. Apesar de todos os seus talentos, contudo, metre e aluno discordavam demasiado e entravam frequentemente em disputas.
Quando Platão morreu, Aristóteles contava trinta e sete anos; esperava também, dadas as suas aptidões e ao facto de ter sido um aluno insigne, ser o sucessor nomeado para dirigir a Academia. Contra o esperado, a Platão sucedeu Espeusipo, seu sobrinho e foi então que Aristóteles, ofendido, decidiu abandonar a Academia, uma vez que nunca iria conseguir tolerar o pensamento do sucessor. Assim transferiu-se para Asso, na Tróade, onde exerceu o seu primeiro ensino autónomo. Neleu converteu-se no seu mais fervoroso discípulo e não é por acaso, portanto, que a maior parte dos manuscritos de Aristóteles foram encontrados na casa de um dos descendentes de Neleu. Depois de três anos de permanência em Asso, Aristóteles transferiu-se para Mitilene.
Em 342 a.C. Aristóteles foi chamado por Filipe II, filho de Amintas III, novo rei da Macedónia, para ser o preceptor do seu filho Alexandre. Apesar de ser um homem inteligente, Filipe II revelava o temperamento - dito de modo simpático - "apaixonado" do seu povo e da sua família. A título de exemplo para ilustrar o ambiente que se vivia na corte dos reis da Macedónia, conta-se que num jantar no qual Aristóteles se encontrava presente, Alexandre insultou o seu pai Filipe II, que se levantou de punhal em riste para o matar com o ímpeto da fúria; e Alexandre, para que não o superassem, por seu turno também desfechou um ataque homicida contra o pai, tendo ambos que ser separados pelos presentes. Tal era o ambiente que Aristóteles, acostumado ao requinte e aos bons costumes, tentou suavizar com a sua sabedoria.
Filipe II da Macedónia acabou por ser assassinado e Alexandre, que não tinha o mesmo interesse do pai para com a filosofia, subiu ao trono. Após ter mandado enforcar Calístenes, sobrinho de Aristóteles que se recusou  adorar Alexandre como um deus, o sábio percebeu que não tinha mais nada a fazer na corte e regressou para Atenas após treze anos de ausência e onde viria a beneficiar da amizade do novo rei, que deu fundos à cidade para desenvolver a educação dos seus habitantes. Assim, Aristóteles fundou a sua escola, o Liceu, uma escola rival da Academia e que compreendia um edifício, um jardim e o passeio que lhe deu o nome. O Liceu tinha em comum com a Academia o facto de ser praticar uma vida em comunidade, com a diferença de haver uma ordem estabelecida. De manhã, Aristóteles leccionava cursos difíceis de argumento filosófico e de tarde dava lições de retórica e dialéctica.
Em 323 a.C. Alexandre morreu e criou-se uma insurreição da parte dos nacionalistas contra os apoiantes do rei. Temendo pela sua vida, até porque já estava a ser acusado pelos próprios atenienses de ser um espião a favor dos Macedónios e ameaçado de prisão, Aristóteles teve que fugir para Cálcis: referindo-se ao destino de Sócrates, explicou que não que queria proporcionar aos atenieneses "uma segunda oportunidade de pecar contra a filosofia". Faleceu meses depois, vítima de uma doença de estômago, com 63 anos. Pouco antes da sua morte escreveu a maior das suas obras porque marcou a época: um testamento que tratava da libertação dos seus escravos e que foi a primeira proclamação de afforria da História. Os seus restos mortais foram enterrados juntos de Pitia, sua esposa, conforme ambos desejavam.

Visão de Deus

A visão aristotélica de Deus não é a imagem clássica de um deus benevolente, amável e criador do Céu e da Terra; na verdade, o deus apresentado por Aristóteles não é Criador de nada. O criador é um ser insatisfeito, sonhador, que vive desejando algo que não existe, como tal é uma criatura imperfeita. Ora se Deus é perfeito, não pode ser Criador nem feliz ou infeliz. Um ser perfeito não sofre nem padece por paixões meramente humanas. Assim, Aristóteles apresenta Deus como o motor não movido do Universo: Deus não pode ser o resultado de nenhuma acção e sim a fonte de toda a acção e, mais uma vez, a necessidade de movimento é outra caracteristica terrena. Deus, na sua omnipotência, não necessita de realizar qualquer acto para realizar as suas vontades mas como não as tem por não ser sonhador também nada faz.
O facto é que Deus não se interessa pelo Mundo, muito embora o Mundo se interesse por Deus; mais uma vez interessar-se pelo mundo significaria estar sujeito a uma emoção e Deus, ser perfeito, é imutável e sem paixão. Ser Supremo frio e impessoal, amado por todos os homens mas indiferente aos seus destinos, Deus apresenta-se assim como uma estátua em pedra de uma bela mulher no meio de um jardim: não sente qualquer tipo de emoção nem evoca qualquer tipo de pensamento ou acção, contudo os homens seguem-na, admiram-na e desejam-na. Nada faz contudo o mundo humano gravita à sua volta. É aquilo que faz mover os homens todos os dias em direcção ao jardim. É, novamente, o motor não movido do Universo.

Forma ideal de governo

Aristóteles estudou todas as formas de governo postas em prática até à altura: analisou-as, reconheceu-lhes as potencialidades e apontou-lhes os defeitos. Na sua análise concluiu que a ditadura é a pior de todas as formas de governo e subordina os interesses de todos à decisão de um só e vice-versa; isto porque a ditadura da multidão é tão má como a ditadura do indivíduo por oposição à democracia, que "paerece ser a mais segura e menos exposta à revolução do que qualquer outra forma de governo"
A forma de governo mais desejável é aquela que "permite a cada homem, seja quem for, exercitar as suas melhores habilidades e viver o mais agradavelmente os seus dias" e terá que ser sempre constitucional: qualquer governo sem constituição é tirania e Aristóteles destacou-se também na redacção de constituições para os povos do seu tempo. Não deveria ser comunista pois segundo Aristóteles o comunismo, ao estipular a responsabilidade colectiva, trará também a negligência individual: por que nos haveríamos de preocupar com certas tarefas se elas são da responsabilidade de todos e alguém o fará? O comunismo, portanto, destruiria a responsabilidade social. Aristóteles advoga também a posse de propriedade privada e o desenvolvimento particular do carácter de cada um, sendo que ambos deveriam estar voltados para o bem-estar público. Cabe ao legislador prover os interesses públicos por meio da altruística reciprocidade dos interesses privados dos cidadãos.
Aristóteles defende que não deve haver uma distinção rígida entre classes, sendo possível cada um subir e descer de hierarquia social; todos devem ter a oportunidade de governar e de serem governados sem distinção, embora juntando uma pequena adenda segundo a qual "os velhos são os mais indicados para governar e os jovens para obedecer". A classe dirigente deve mostrar uma especial preocupação para com a educação dos jovens (que seria prática e ideal) e o seu objectivo primordial traduz-se na satisfação da felicidade dos indivíduos digiridos por meio da justiça. Mas o que é a felicidade?

A felicidade de Aristóteles

Muito genericamente, Aristóteles define a felicidade como o estado agradável do espírito decorrente do exercício das boas acções: estas seriam resultado da virtude. Contudo isto não basta: há outros ingredientes que Aristóteles aponta como necessário a uma vida feliz, como ser-se dotado de certos bens (boa origem, boa aparência, boa fortuna, bons amigos...), uma vida longa e sadia e nobreza moral, da qual a virtude não aparece como sinónimo. O indivíduo virtuoso, ao contrário da conotação que damos actualmente, é aquele indivíduo que é excelso em qualquer tipo de excelência: a palavra "virtude", que nos foi trazida do latim "virtus", veio do grego "arete" e refere-se a Ares, o deus da guerra. A virtude significa literalmente "qualidade de varão". Assim, um homem casado que tivesse muitas mulheres, por muito imoral que fosse, seria um indivíduo virtuoso no que toca às artes da conquista e um Hitler cruel é um virtuoso estadista. A virtude de Aristóteles é puramente técnica - poderia traduzir-se em eficiência - e não depende da moralidade.
As boas acções de que fala Aristóteles também não se referem ao auto-sacrifício e têm na verdade em vista a auto-preservação: o Homem faz parte de um todo social e cada boa acção que dispender pelo bem comum é na verdade uma forma de auto-benefício; para mais, todas as boas obras estão destinadas a serem retribuídas com juros, sendo portanto vistas como um emprego de capital.

Obras

148 Constituições - Diálogos - Da Monarquia - Alexandre - Os costumes dos bárbaros - História Natural - Organon - Da Alma - Retórica - Lógica - Ética a Eudemo - Ética a Nicómano - Física - Metafísica - Política - Poética - (...)

terça-feira, 10 de abril de 2012

HIPÓCRATES

Hipócrates, considerado o "pai da medicina", foi o líder da "Escola de Cós" e direccionou a medicina para o conhecimento científico, livre da magia e das superstições. Recebeu os seus primeiros ensinamentos do pai e estudou também Retórica e Filosofia. Acabou por tornar-se no maior médico da sua época.
Conta-se que a sua fama ter-se-ia criado após uma epidemia de peste que assolou Atenas pois Hipócrates, vendo que os artesãos que se encontravam perto do fogo eram aqueles que mais resistiam à doença, teria mandado acender fogueiras por toda a cidade, extinguindo a epidemia.
A Hipócrates associa-se o famoso "Juramento", proferido ainda hoje pelos alunos de medicina por ocasião da sua formatura:

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter os seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, os meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada a minha vida e a minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

http://net-biblio.blogspot.pt/2011/06/do-riso-e-da-loucura-por-hipocrates.html